quinta-feira, 3 de julho de 2014

Amo suas linhas tortas. 
Admiro seus arranha-céus incertos.
Suas caras pintadas e, por que não dizer, mascaradas escondem-se entre as caras amarradas, que têm os olhos fixados no chão.
Quanta concentração.
As buzinas ensurdecedoras e seu silêncio hipnotizante sintonizam uma rádio constante.
Quem a entende São Paulo?
Adormeço no balançar do vagão na mesma frequência com que sou acordada com o cutucar de quem me avisa a hora de desembarcar. O tempo não pode parar.
Como viver em ti São Paulo?
Seus aromas e diversos sabores atiçam meu paladar. Mas, como parar se o relógio não quer colaborar?
Como essas pernas não se embaraçam com tamanha andança.
Corre, pula, sobe, desce, anda....ufa. Para.
Que estranha dança.
Como viver sem ti São Paulo?
Se aqui não temos o Cristo de braços abertos, temos a mão erguida oferecendo oportunidade para quem tem força de vontade.
Obrigada São Paulo!


 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

E você ainda reclamando da vida...

Pela manha uma sessão de massagem tailandesa, nada erótica, ao entrar na linha vermelha. Na linha amarela, é hora da sessão de acupuntura onde as agulhas são as bolsas ou o salto das moças. A acupuntura pode ser acompanhada da sauna, com essência de  CC matinal, cachaça, cabelo molhado  e leves toques adocicados de Victoria Secret's.  Ainda na linha amarela, temos uma sessão espiritual, com a procissão dos escolhidos, enfileirados, caminhamos como pingüins. Na linha verde sofremos um choque térmico com 
o ar gélido, com essência de caixa de isopor. Prontinho! Estamos preparados e "relaxados" para mais um dia corporativo. Mas, não se preocupe, após o termino do expediente temos mais algumas sessões. 
E você querendo ir ao Spa Week tic-tic...bobinho.

sábado, 10 de março de 2012

Alguém foi atropelado na Paulista
Uma ciclista....
mais uma ciclista
mais um sonho interrompido
Não vi o rosto
Não sei o nome
De onde vinha? Para onde iria?
....

O corpo permanece na via
Os curiosos chegam
Os curiosos param
A T.V anuncia
múltiplas versões para um triste fim

A pericia investiga
A rotina inicia
O corpo será levado
A Paulista será lavada
Um ar pesado toma conta do ambiente
A sexta-feira fica com cara de segunda-feira 13

Alguém vai receber uma ligação
Alguém vai ficar sem o chão
Poderia ser um meu
Poderia ser um seu
Poderia ter sido você

Lá vem outro ciclista atravessando a Paulista

sábado, 2 de abril de 2011

Sustentabili, o quê?

A palavra é longa, tem 16 letras, sua pronúncia, para muitos, é complicada – quase um trava língua –, mas virou moda mundialmente: SUS – TEN – TA – BI – LI – DA – DE. Atualmente, é assunto obrigatório nas rodas entre amigos, é cult ter uma vida sustentável , os concursos públicos e vestibulares já a utilizam como tema obrigatório nas redações.  Mas, você sabe o que é SUS-TEN-TA-BI-LI-DA-DE? Você tem uma vida sustentável?
Para muitos, SUS-TEN-TA-BI-LI-DA-DE é apenas usar sacolas retornáveis no supermercado ou separar a caixinha do leite na hora de recolher o lixo.  As socialites mandam suas empregadas separarem o lixo reciclado e vão aos shoppings com seus caríssimos casacos de pele. Os homens colam nos carros adesivos dizendo: “Não polua o Planeta Terra”, mas utilizam seus automóveis para irem à padaria, que fica na próxima esquina. Os alunos têm aula de educação ambiental, nas escolas, mas quando chegam a casa, observam suas mães desperdiçando água. Os empresários lançam campanhas para recolherem pilhas e baterias, mas vendem materiais que são produzidos ilegalmente por homens e mulheres, escravos, de empresas capitalistas.  
SUS-TEN-TA-BI-LI-DA-DE está muito além das questões ambientais, o assunto deve ser discutido na economia, na política, no cotidiano e na cultura, para que dessa forma possamos, realmente, ter uma vida sustentável.
Procurei no meu saudoso dicionário Aurélio, de bolso, de 1997, e a palavra ainda não estava relacionada. Alguns cliques pela internet foram suficientes para encontrar um significado, neste emaranhado de informações: “Sustentabilidade é a habilidade, no sentido de capacidade, de sustentar ou suportar uma ou mais condições, exibida por algo ou alguém.”
Temos a mania de conceituar as coisas, saber seus significados, como se isso facilitasse sua utilização. Mas, na verdade, não sabemos exatamente como usa-lá.  É como dizer o significado de felicidade. O que é felicidade para mim, pode não ser felicidade para você, mas quem vai dizer que não é felicidade? O que é sustentável para João, pode não ser para José e assim por diante. Mas o importante é que pequenas atitudes, “sustentáveis”, façam parte do nosso cotidiano e que possamos fazê-las naturalmente, sem que sejam necessárias campanhas motivacionais, propagandas  e mais propagandas.  Dessa forma, a socialite vai continuar pedindo que sua empregada separe o lixo, para a coleta seletiva, mas não usará mais casacos de pele, que aumentam cada vez mais o número de animais em extinção. O homem vai manter o adesivo no carro e fará mais caminhadas pelo seu bairro, diminuindo a emissão de CO2. A mãe vai economizar mais água, permitindo assim, que seu filho possa utilizar o que aprende na escola em casa. E o empresário vai ampliar as campanhas sustentáveis, diminuindo seus gastos e inibindo a escravidão humana, que assombram milhares de imigrantes.
Enfim, é mais fácil ser sustentável do que pronunciar SUS-TEN-TA-BI-LI-DA-DE.

segunda-feira, 14 de março de 2011

No mês das mulheres quem fez a festa foram os homens

Que a mulher brasileira é um dos sinônimos do carnaval brasileiro, não há dúvidas; mas, em 2011, os homens fizeram a diferença. E não foram os sarados, os musculosos e tão pouco as caras jovens que, na maioria, das vezes duram apenas um carnaval;mas, sim, os que têm as marcas do tempo na face, o grisalho nos cabelos e uma história de vida para ser contada em prosa e samba.

Em São Paulo, a escola Vai-Vai conquistou o 14º título de sua história ao homenagear o pianista e maestro João Carlos Martins, que após perder parte dos movimentos das mãos – ocasionados por problemas de saúde e acidentes como um golpe na cabeça durante um assalto na cidade de Sofia (Bulgária) – persistiu no caminho da música e desenvolveu uma nova forma de reger. Por não conseguir segurar a batuta ou até mesmo virar as páginas das partituras dos concertos, João Carlos memoriza nota por nota, demonstrando mais uma vez sua superação.

Com título “A música venceu”, a escola do Bixiga levou para o primeiro dia de desfiles, no Anhembi, cerca de 3.800 componentes, que com o raiar do dia animaram a arquibancada com o samba enredo:

“E assim, na sua força de superação
Buscou a verdadeira vocação
Um novo incidente o quis derrubar
Mas com maestria se pôs a lutar...”

A coincidência entre as cores da escola – preto e branco – e a vestimenta do homenageado, facilitaram a nota máxima no quesito fantasia e harmonia, totalizando os 269,50 pontos conquistados. O maestro regeu a bateria da escola de samba e estava nitidamente emocionado com a homenagem.

No Rio de Janeiro, o homenageado Roberto Carlos é o motivo de suspiro de muitas mulheres, apesar do passar dos anos, encanta multidões com suas músicas românticas e não foi diferente na Sapucaí. O casamento foi perfeito entre o Rei da Jovem Guarda e a escola Beija-Flor, que assim como o homenageado têm as cores azul e branco como símbolo. Em um carro com mais de 300 crianças, Roberto Carlos participou emocionado do desfile e, como toda a escola, cantarolava o samba enredo:

“Na Jovem Guarda o rock a embalar... Vivendo a paixão
Amigos de fé guardei no coração...
....O beijo na flor é só pra dizer
Como é grande o meu amor por você”

Durante a apuração dos votos, a escola se destacou entre as adversárias, alcançando o 12º título com 299,8 pontos – perdendo pontos nos quesitos mestre-sala e porta-bandeira e, ironia ou não, no samba-enredo.

Ao contrário dos demais anos, em 2011 o carnaval aconteceu no mês de março – mês em que é comemorado o dia internacional da mulher. Mas, entre tanto silicone, músculo e pouca roupa, foram dois homens que fizeram de suas vidas arte e superação.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

—Tem alguém mais importante que ela? — indaga uma senhora a minha direita.

— Não. Não. Somente ela — responde a sorridente funcionária da Livraria Cultura, de São Paulo, enquanto tenta impedir que alguém ultrapassasse a área destinada à imprensa.

Logo após o fim do expediente de uma fria segunda-feira não mais importante em São Paulo, a candidata à presidência da Republica Marina Silva autografaria sua biografia, ao lado da autora Marília de Camargo César.


Com minha máquina fotográfica em punho, dentre tantos profissionais, me atrevo a clicar alguns personagens secundários. A primeira fotografia é do então presidente da Natura, Guilherme Leal, futuro vice-presidente da Republica caso Marina seja eleita. Sempre cercado de pessoas, ele concede entrevista para alguns membros da imprensa.

Um burburinho a minha direita. Quem será? Alguém importante há de ser, para tamanha agitação. É Fernando Gabeira, candidato ao governo do Rio de Janeiro, que vem cumprimentar a aliada de partido.

Não demora muito para que as atenções de Gabeira sejam divididas com os olhos azuis do cineasta Fernando Meirelles, autor do prefácio.

Flashes e mais flashes tomam conta da entrada da livraria. Deixo Meirelles de lado para descobrir quem será o próximo convidado. Tamanho alvoroço é feito para acolher a protagonista da obra, Marina Silva, que chega acompanhada da autora Marília. Tirar uma foto nestas circunstancias é um desafio, pois câmeras profissionais tomam à frente da minha captadora amadora de imagens.

Começa a sessão de autógrafos. A fila para conseguir a assinatura é extensa. Um senhor barbudo, cujo cabelo desgrenhado é perceptível apesar do boné, surge ao fundo. Trata-se de Luiz França Pena, presidente do Partido Verde, que fala sem parar no telefone celular, andando de um lado para outro.

Meus braços erguidos, apesar de doloridos, tentam capturar a melhor imagem de Mariana Silva, que havia parado de autografar os livros para falar com a imprensa.

Ao me distanciar percebo que algo acontece perto do caixa. Vou para direita, volto para esquerda, um, dois, três cliques, descubro Eduardo Suplicy que compra o livro escrito sobre sua antiga aliada de partido.


Entre um questionamento e outro da imprensa, a moça do caixa registra os dois exemplares e aguarda que seu cliente confirme a compra digitando a senha. Ao se livrar das intermináveis perguntas, Suplicy efetiva a compra e segue em direção à mesa de autógrafos.

Os flashes que se intensificam para registrar o aperto de mãos entre o petista e a ambientalista, seguido do caloroso abraço. De longe escuto alguém perguntar:

— Ela é a sua candidata, Suplicy? —. No entanto, a pergunta capciosa não chega aos ouvidos do interessado e se perde no ar.

Suplicy também oferta autógrafos, já que havia distribuído uma cartilha com ilustrações do Ziraldo. Pego um exemplar enquanto freneticamente

procuro uma caneta na escuridão da minha bolsa, tipicamente feminina.

— O senhor pode autografar para mim, por favor?

— Sim, sim. Qual o seu nome?

— Grasiele, com esse — digo, aproveitando para indagar: — Senador, podemos tirar uma foto, também?

— Claro — responde, solícito.

Com um beijo no rosto e um autografo no bolso, vou-me embora feliz do evento.

sábado, 31 de outubro de 2009

Eu sabia que não iria durar muito

Eu sabia

E durou até mais do que imaginava ou esperava

Queria experimentar, sentir

Foi muito bom o que senti (é muito bom)

Tentei de todas as formas ser forte

Eu tentei

Mas coisas começaram a mudar

Saíram do meu controle

Algo mudou

Alguém balançou

Agora eu tenho que escolher

Decidir

Logo eu

Tão indecisa

Tão sem coragem

Porque eu?

Logo eu